O detalhe fora da vista: as torres da Catedral de Ruão

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175234614332022014

Palavras-chave:

Detalhe, Escultura, Ruão, Catedral, Invisibilidade

Resumo

O detalhe pode assumir várias dimensões, entre o pormenor, uma parte num todo, um fragmento, elemento mínimo, marginal, liminar, passando pelo carácter de elemento autónomo, simbólico, significante, dispositivo modificador, até de um acaso, ou insignificância ou, pelo contrário, de um exagero formal. O nome detalhe reveste-se de uma extraordinária polissemia, aplicando-se a um vasto conjunto de situações, pelo que os detalhes, no contexto da história da arte e da estética, não serão todos iguais, no que cumpre ao discurso, intenção, significação e carácter, não surgirão pelos mesmos motivos, não possuem a mesma força expressiva, nem devem ler-se segundo modelos de interpretação generalistas. A compleição do detalhe dificulta a objectividade e a fluidez da análise, e, sobretudo, a construção de narrativas limpas e acabadas. Estudar o detalhe pode, por tudo, constituir-se como uma tarefa que origina discursos fragmentários.

Depois de uma introdução teórica ao detalhe, na espessura das suas dimensões, traz-se à colação o caso das encomendas das três torres da Catedral de Ruão (Normandia, França): a torre de Saint-Romain, a torre da Manteiga, e a idealização do pináculo sobre a torre do cruzeiro. Estas edificações foram criticadas pela encomenda devido ao detalhe excessivo e ao talhe demorado e minucioso da pedra para obras fora da vista. O último trabalho, tido como o apogeu do detalhe, não chegaria a edificar-se.

A questão por resolver relaciona-se com os justos motivos que levaram às duras críticas dos comitentes e com a resistência empreendida pelos artistas, defendendo o detalhe mesmo perigando os seus trabalhos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Carla Alexandra Gonçalves, CEAACP/FCT/UC

Professora Auxiliar: Universidade Aberta. PhD researcher: Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património da Universidade de Coimbra.

 

Referências

ANTUNES, Joana; CRAVEIRO, Maria de Lurdes; GONÇALVES, Carla Alexandra (Coord.). The Centre as Margin: Eccentric Perspectives on Art. Delaware: Vernon Press, 2019.

ARASSE, Daniel. Le Détail. Pour une histoire rapprochée de la peinture. Paris: Flammarion, 1992.

ARASSE, Daniel. Não se vê nada. Lisboa: KKYM, 2014.

BARTHES, Rolland. A Câmara Clara, nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

BEAUREPAIRE, Charles Marie de Robillard de. Notes sur les architectes de Rouen. Jean Richier, Les Pontifs, Jacques Le Roux, Guillaume Duval, Pierre le Signerre, et Autres (Seconde moitié du XVe siècle). Les Amis des Monuments Rouennais. Bulletin de 1903. Rouen: Imprime Julien Lecerf, p. 47-77.

BEAUREPAIRE, Charles Marie de Robillard de. Les architectes de Ruen dasn la primière moitié du XVIe siècle. Les Amis des Monuments Rouennais. Bulletin de 1904. Rouen: Imprime Julien Lecerf, p. 119-130.

BELTRAMI, Costanza. Building a Crossing Tower: A Design for Rouen Cathedral of 1516. London: Sam Fogg/Paul Holberton Publishing, 2016.

BÉRARD, André. Dictionnaire Biographique Des Artistes Français Du XIIe Au XVIIe Siècle Suivi d'une Table Chronologique et Alphabetique Comprenant en vingt classes les arts mentions dans l'ouvrage. Paris: JB Dumoulin Libraire De L'École Des Chartes 13, Quai des Grands-Augustins, 1872.

BOCCACCIO, Giovanni. Decameron. Vol. Secondo. Paris: Librairie de Firmin Didot Frères, 1849.

BORK, Robert. Great Spires: Skyscrapers of the New Jerusalem. Köln: Kolner Architekturstudien, 2003.

BOTTINEAU-FUCHS, Yves. Maître d'oeuvre-maître d'ouvrage: les Le Roux et le chapitre cathédrale de Rouen. In : Artistes, artisans et production artistique au Moyen-Age. Paris, 1986. p. 183-195.

BOTTINEAU-FUCHS, Yves. La statuaire de la Première Renaissance en Haute-Normandie. Annales de Normandie, 42ᵉ année, n°4, pp. 365-393, 1992;. Doi: 10.3406/annor.1992.2143.

CHIROL, Pierre. Rouen 1939. Grenoble-Paris: B. Arthaud, 1946.

DIDI-HUBERMAN, G. Pour une anthropologie des singularités formelles. Remarque sur l'invention warburgienne. Genèses, n.º 24, pp. 145-163, 1996.

CARMENT-LANFRY, Anne-Marie; Le Maho, Jacques le (ed.). La Cathédrale Notre-Dame de Rouen. Rouen: Presses universitaires de Rouen et du Havre, 2010.

CUSA, Nicolau. De Deo Abscondito: O Deus Escondido. Revista Portuguesa de Filosofia, 20, n.º 4, 1964, pp. 436–53. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/40334349 Acesso em: dezembro de 2021

GINZBURG, Carlo. Mitos emblemas sinais. Morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

GONÇALVES, Carla Alexandra. Para uma Introdução à Psicologia da Arte: as formas e os sujeitos. Lisboa: Edições 70, 2018.

HORACIO. Arte poetica de Q. Horacio Flacco, epistola aos Pisões. Traduzida em verso portuguez por Antonio José de Lima Leitão. Lisboa: Imp. Manoel Joseph da Cruz, 1827. Disponível em: https://purl.pt/27913/1/index.html#/1/html Acesso em: novembro de 2021

KOTKOVÁ, Olga. 'The Feast of the Rose Garlands': What Remains of Dürer? The Burlington Magazine. Vol. 144, n.º 1186, pp. 4-13, Jan., 2002. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/889418 Acesso em: dezembro de 2021.

LANFRY, Georges; CHIROL, Elisabeth; BAILLY. Jean, Le Tombau des cardinaux d’Amboise à la Cathédrale de Rouen. Rouen: Lecerf, 1959.

OLIVEIRA, Emília Rocha de. A Arte Poética de Horácio por Pedro José da Fonseca. Ágora, Aveiro: Universidade de Aveiro, n.º 2, pp. 155-183, 2000.

REBELLO, Lucia Sá. Ars Poetica de Horácio – o texto original. Organon. Porto Alegre: UFRGS, v. 29, n.º 56, pp. 259-277, 2014.

SANTO AGOSTINHO. Confissões. Trad. Santos, J. Oliveira e Pina, A. Ambrósio de. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1990.

VERDIER, François. La Tour de Beurre et la Tour couronnée, deux chefs-d'œuvre de la fin du Moyen Age à Rouen. In Situ. Revue des patrimoines. 1, 2001. Disponível em: https://journals.openedition.org/insitu/1148 Acesso em: novembro de 2021.

WARBURG, Aby. The art of Portraiture and the Florentine Bourgeoisie: Domenico Ghirlandaio in Santa Trinita: the portraites of Lorenzo de’ Medici and his household. In: WARBURG, Aby. The Renewal of Pagan Antiquity. Introduction by Kurt W. Forster; Translation by David Britt. Los Angeles: Getty Research Institute for the History of Art and the Humanities, 1999. p. 184-222.

Downloads

Publicado

2022-05-01

Como Citar

GONÇALVES, Carla Alexandra. O detalhe fora da vista: as torres da Catedral de Ruão. Palíndromo, Florianópolis, v. 14, n. 33, p. 14–42, 2022. DOI: 10.5965/2175234614332022014. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/palindromo/article/view/21600. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigos Seção temática