Dimensões historiográficas da virada visual ou o que pode fazer o historiador quando faz histórias com imagens?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175180311282019402

Resumo

As imagens não são mais novidades na pesquisa historiográfica. Contudo, propostas no início dos anos 1990, a pictorial turn (nos EUA, por W. J. T. Mitchell) e a iconic turn (na Alemanha por Gottfried Boehm) alteraram o cenário das pesquisas interdisciplinares sobre artefatos visuais a partir de princípios da alteridade das imagens em relação à linguagem e da historicidade da cultura visual. Soma-se as essas propostas a anacronia das imagens e da sintomatologia de Georges Didi-Huberman, historiador da arte francesa. Este artigo procura avaliar o impacto historiográfico das viradas às imagens em dois aspectos fundamentais do trabalho do historiador: a produção de uma heurística da imagem e da fonte histórica; as construções do tempo/historicidade e da visibilidade do passado e seus usos públicos. Cruzando recursos da história da historiografia e da teoria da imagem e da história, o artigo apresenta em três seções: as matrizes norte-americana, alemã e francesa das viradas pictóricas/icônicas/visuais; as dimensões históricas e historiográficas das viradas; a concepção de fonte histórica, de temporalidade e o problema da visibilidade do passado na atualidade.

Palavras-chave: Cultura Visual. História da Historiografia. Anacronia e Historicidade. Virada Visual.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Francisco das Chagas Fernandes Santiago Júnior, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Licenciado em História na UFPI em 2002. Mestre em Multimeios na UNICAMP em 2005. Doutor em História pela UFF em 2009.

Referências

ALBERA, François; TARTAJADA, Maria. Cinema Beyond film: media, epistemology in the modern era. Amsterdan: Amsterdan University Press, 2010.

ALLOA, Emanuele. Iconic turn: alcune chiavi di svolta. Lebenswelt, Milano, n. 2, 2012, pp. 144-159.

ALPERS, Svetlana. A arte de descrever. São Paulo: EDUSP, 1999.

ALBUQUERQUE JR.; Durval M. História a arte de inventar o passado. São Paulo: EDUSC, 2004.

ANKERSMIT, Frank. Enunciados, textos y cuadros. In: Giro lingüístico, teoria literaria y teoria histórica. Buenos Aires: Prometeo, 2012.

ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação. Campinas, SP: EDUNICAMP, 2011.

BATESON, Gregory; MEAD, Margareth. Balinese character: a photographic analysis. New York: Wilbur Editor, 1942.

BAXANDALL, Michael. O olhar renascente: pintura e experiência social na Itália da renascença. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.

BELTING, Hans. Antropologia delle immagini. Roma: Carocci, 2013.

________. Image, medium, body: a new approach to Iconology. Critical Inquiry, 31, 2005, pp. 302-319.

BERNARDI, Alberto; GUARRACINO, Scipione (orgs.). Dizionario di storiografia. Milano: Bruno Mondadori, 1996.

BESANÇON, Alain. A imagem proibida. Rio de Janeiro: Betrand Brasil, 1997.

BETTETINI, Maria. Control le immagine: la radici dell’iconoclastia. Laterza: Roma-Bari, 2013.

BOEHM, Gottfried. Il ritorno delle immagine. PINOTTI, Andrea; SOMAINI, Antonio (orgs.). Teorie dell’immagine: il dibattito contemporaneo. Milano: Raffaello Cortina Editore, 2009a. PP. 39-72.

________. Immagine e tempo. In: DOTTORI, R., KUNKLER, H. (orgs.). Estetica e ermeneutica. Napoli: Pironti, 1981, p. 121-134.

________. La svolta iconica. Roma: Meltemi, 2009b.

BREDEKAMP, Horst. A neglected tradition? Art history as ‘Bildwissenschaft’. Critical Inquiry, 29, 2003, p. 418-428.

________. Immagine che ci guardano: teoria dell’atto iconico. Milano: Cortina, 2015.

________. Nostalgia dell’antico. Milano: Il Saggiatore, 2016.

BRENNA, Teresa; JAY, Martin (orgs.). Vision in context. New York: Routleged, 1996.

BRYSON, Norman. Tradition and desire. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.

BUCK-MORSS, Susan. The dialectis of seeing. Cambridge: The MIT Press, 1991.

CARDOSO, Ciro; MAUAD, Ana Maria. História e imagem: os casos do cinema e da fotografia. In: CARDOSO, Ciro; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. Rio de janeiro: Editora Campus, 1997.

CARVALHO, Vânia. Gênero e artefato. São Paulo: EDUSP, 2004.

CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estudos avançados, São Paulo, v. 5, n. 11, 1991, pp. 173-191.

CHOAY, Françoise. Alegoria do Património. São Paulo; Cortez, 2001.

CLARK, T. J. Modernismos. São Paulo: Cosac & Naify, 2007.

COLI, Jorge. O corpo da liberdade. São Paulo: Cosac & Naify, 2010.

COMETA, Michele. La scrittura delle immagine: letteratura e cultura visuale. Milano: Raffaelo Cortina Editore, 2012.

________. Prefazione all’edizione italiana. In: MITCHELL. W. J. T.. Pictorial turn: saggi di cultura visual. 2d. Milano: Raffaello Cortina Editore, 2017, pp. 9-40.

COSTA, Eduardo; SCHIVINATTO, Iara Lis (orgs). Cultura visual e história. Sao Paulo: Annablume, 2016.

CRARY, Jonathan. Técnicas do Observador. São Paulo: Contraponto, 2012.

D’AUTILIA, Gabriele. Storia della fotografia in Italia. Milano: Euinaudi, 2012.

DEBRAY, Régis. Vida e morte da imagem. Petrópolis: VOZES; 1993.

DIDI-HUBERMAN, George. Beato Angelico: figure del dissimile. Milano: Abscondita, 2014.

________. Diante do tempo: história da arte e a anacronia nas imagens. Belo Horizonte: EDUFMG, 2016.

________. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: editora 34, 1998.

________. A pintura encarnada. São Paulo: EDUNIFESP, 2013.

________. Sentir o tempo. Entrevista com Georges Didi-Huberman. In: https://www.publico.pt/2014/04/11/culturaipsilon/noticia/sentir-o-tempo-e-ver-a-historia-nas-imagens-332932. Acesso em maio 2018.

DIKOVITSKAYA, Margaret. Visual culture. Cambridge: The MIT Press, 2006.

FABRIS, Annateresa (org.). Fotografia: usos e funções no século XIX. São Paulo: EDUSP, 1998.

FERNANDES, Cassio. Jacob Burckhardt e Aby Warburg: da arte à civilização do renascimento. Locus, Juiz de Fora, v. 12,. N. 1, p 127-143, 2006.

GEIMER, Peter. Inadverted images: a history of photographic apparitions. Chicago: University of Chicago Press, 2018.

________. Photography as a “Space of Experience”: On the Retrospective Legibility of Historic Photographs. Getty Research Journal, Chicago, n. 7, January 2015, pp. 97-108.

GELL, Alfred. Art and Agency: na anthropological theory. Oxford: Oxford University Press, 1998.

GINZBURG, Carlo. Representação: a palavra, a ideia, a coisa. In: Olhos de madeira: nove reflexões sobre a distância. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 85-103.

________. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, emblemas, sinais. São Paulo: Cia das Letras, 1991.

GOMBRICH, Ernest. Arte e ilusão. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

GOODY, Jack. A domesticação do pensamento selvagem. Petrópolis: VOZES; 2012.

GRUZINSKI, Serge. A guerra das imagens: de Cristovão Colomobo a Blade Runner (1492-2019). São Paulo: Cia das letras, 2006.

GUIMARAES, Manoel Luiz Salgado. Vendo o passado: representação e escrita da história. Anais do Museu Paulista, São Paulo, vol.15, n.2, pp.11-30, 2007.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. A produção da presença: o que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto, 2010.

GUNNING, Tom. D W Griffith and the origins of American narrative film. Urbana: University of Illinous Press, 1991.

HARTOG, François. Regimes de historicidade: presentismo e experiências do tempo. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.

HUIZINGA, Johann. La scienza storica: il suo valore, la sua attualità. Milano: edizione Res Gestae, 2013.

HUNT, Lynn (org.). A nova história cultural. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

JAY, Martin. Downcast eyes: the Denigration of Vision in Twentieth-Century French Thought. Los Angeles: University of California Press, 1993.

JENKS, Chris (ed.). Visual culture. London/New York: Routledge, 1995.

KEMP, Martin. The Science of Art. Yales: Yale University Press, 1990.

KORNIS, Monica de Almeida. Cinema, televisão e história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

KOSSOY, Boris; CARNEIRO, M. L. T. . O olhar europeu: o negro na iconografia brasileira do Século XIX. 1. ed. São Paulo-SP: Edusp, 1994.

KOZLOFF, M. Photography and fascination. Danbury: Addison House, 1979.

LANGLOIS, Charles, SEIGNOBOS, Charles. Introdução aos estudos históricos. Lisboa: PatolaLivros, 2017 (edição Kindle).

LARA, Silvia. Fragmentos setecentistas. São Paulo: Cia das Letras, 2005.

LIMA, Valéria. J. B. Debret: historiador e pintor. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2007.

LUCAS, Meize Regina de Lucena. Caravana farkas: intinerários do documentário brasileiro. Tese de Doutorado (História). Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2005.

MAUAD, Ana Maria. Poses e flagrantes. Rio de Janeiro: EDUFF, 2008.

________. Imagem e auto-imagem do império. In ALCENASTRO, Luiz Felipe de Alencastro. (Org.). História da vida privada no Brasil império: a corte e a modernidade nacional. São Paulo: Cia das Letras, 1997.

________. Imagens em fuga: considerações sobre espaço público visual no tempo presente. Tempo e argumento, v. 10, p. 252-285, 2018.

MAUAD, Ana Maria; LOPES, Marcos Felipe de Brum. Imagem, história e ciência. Boletim Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, vol.9, n.2, 2014, pp. 283-286, 2014.

MENDONÇA, Paulo Knauss. Aproximações disciplinares: arte, historia, imagem. Anos 90, Porto Alegre, v. 15, n. 28, p.151-168, dez. 2008.

MENDONÇA, Paulo Knauss. Imaginária urbana e poder simbólico: escultura pública no Rio de Janeiro e Niterói. Tese de Doutorado (História). Niterói, RJ: Universidade Federal Fluminense, 1998.

________. O desafio de fazer histórias com imagens: arte e cultura visual. ArtCultura, Uberlândia, v. 8, n. 12, p. 97-115, jan-jun, 2006.

MENEGUELLO, Cristina. Da ruína ao edifício. São Paulo: Annablume, 2008.

MENESES, Ulpiano T. B. de. A História, cativa da memória? Para um mapeamento da memória no campo das ciências sociais. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 34, p. 9-24, 1992.

________. Fontes visuais, história visual, cultura visual. Revista brasileira de história, São Paulo, v. 23, n. 45, p. 11-36, 2004.

________. História e imagem: iconografia/iconologia e além. CARDOSO, Ciro; VAINFAS, Ronaldo. Novos domínios da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012, p. 243-261.

MIRZOEFF, Nicholas. An introduction to visual culture. London/New York: Routledge, 1999.

________. Come vedere il mondo. Cremona: Johan e Levi, 2018.

MITCHELL, W. J. T.. Iconology. Chicago: University of Chicago Press, 1986.

________. Image Science: iconology, visual culture and media aesthetics. Chicago: The University of Chicago Press, 2015.

________. Picture theory: essays on verbal and visual representation. Chicago: The University of Chicago, 1994.

________. What do pictures want? Chicago: University of Chicago Press, 2005.

MONDZAIN, Marie-José. Imagem, ícone, economia: as fontes bizantinas do imaginário contemporâneo. São Paulo: Contraponto, 2013.

MONTE, Maria Giuseppina di; MONTE, Michele di (org.). Introduzione. BOEHM, Gottfried. La svolta iconica. Roma: Meltemi, 2009, p. 7-36.

MONTE, Michele. Pre-scritto alla logica di uma scienza delle immagini. Lebenswelt, Milano, n. 2, 2012, pp. 202-218.

MONTEIRO, Charles (org.). Fotografia, história e cultura visual: pesquisas recentes. Porto Alegre: EDIPUC, 2012.

MORETTIN, Eduardo. Humberto Mauro, cinema, história. São Paulo: Alameda, 2013.

MORSEL, Joseph. Traces? Quelles traces? Réflexions pour une historie non passéiste. Revue historique, Paris, n. 680, v. 4, 2016.

MOXEY, Keith. Contemporaneity’s heterochronicity. In: Visual time: the image in History. Duke: Duke UJniversity, 2013, pp. 37-51.

________. Visual studies and iconic turn. Journal of Visual Culture, n. 7, v. 2, 2008, p. 131-146.

PANOFSKY, Erwin. Idea: a evolução do conceito de belo. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2013.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História cultural: experiências de pesquisa. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2003.

PINOTTI, Andrea; SOMAINI, Antonio (orgs.). Teorie dell’immagine: il dibattito contemporaneo. Milano: Raffaello Cortina Editore, 2009. PP. 9-38.

________. Cultura visuale: imagine, sguardo, media, dispositivi. Milano: Einaudi, 2016.

POMIAN, Krzyśztof. Collezionisti, amatori e curiosi: Parigi-Venezia XVI-XVIII secolo. Milano: Il Saggiatore, 1989.

RAMOS, Fernao. A Imagem-câmera. Campinas, SP: Papirus, 2012.

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas, SP: EDUNICAMP, 2007.

ROSSI, Paolo. A chave universal. São Carlos: EDUSC, 2004.

RUSEN, Jorn. Teoria da história. Curitiba. Editora UFPR, 2015.

SALGUEIRO, Valéria. Vistas urbanas nos álbuns ilustrados por viajantes europeus do século XIX. Tempo, Rio de Janeiro, v. 4, p. 103-123, 1997.

SAMAIN, Etienne. Quando a fotografia (já) fazia os antropologos sonharem: o jornal La Lumière (1851-1860). Revista de antropologia, São Paulo, USP, v. 44, n. 2, 2001, p.89-126

SANDBERG, Mark. Effigy and narrative: looking into the 19th Folk Museum. In: CHARNEY, Leo; SCHWARTZ, Vanessa (orgs.). Cinema and the invention of modern life. Los Angeles: University of California Press, 1995, p 320- 360.

SCHMITT, Jean-Claude. O corpo das imagens: ensaios sobre a cultura visual na Idade Media. São Carlos, SP: EDUSC, 2007.

SCHVARZMAN, Sheila. Humberto Mauro e as imagens do Brasil. São Paulo: Hucitec, 2004.

SCHWARCZ, Lilian Moritz. O sol do Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 2008.

________. As barbas do imperador: D Pedro II. São Paulo: Cia das Letras, 1998.

SETTIS, Salvatore. Warburg continuatus. Descrizione di una biblioteca. Quaderni storici, v. 20, n. 58, pp. 5-38, 1985.

SLENES, Robert. As provações de um Abraão africano: a nascente nação brasileira na Viagem alegórica de Johann Moritz Rugendas. Revista de história da arte e arqueologia, Campinas, n. 2, 1995, pp. 271-96.

SOBCHACK, Vivian (org.). The persistence of history: cinema, television and modern event. New York: Routledge, 1995.

VERNANT, Jean-Pierre. Da presentificação do invisível à imitação da aparência. In: Entre mito e política. 2 ed. São Paulo: EDUSP, 2002, p. 295-308.

VEYNE, Paul. Come si scrive la storia. Roma: Laterza, 1973.

YATES, Frances. A arte da memória. Campinas: EDUNICAMP, 2007.

Downloads

Publicado

2019-10-22

Como Citar

SANTIAGO JÚNIOR, Francisco das Chagas Fernandes. Dimensões historiográficas da virada visual ou o que pode fazer o historiador quando faz histórias com imagens?. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 11, n. 28, p. 402–444, 2019. DOI: 10.5965/2175180311282019402. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180311282019402. Acesso em: 28 mar. 2024.