Do paladar ao potyguês: a transtemporalidade da língua

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/2175234614342022035

Palavras-chave:

Paladar, Potyguês, Língua, Tempo dos sonhos

Resumo

Se a língua é fascista, pois obriga a dizer (BARTHES, 2013), há outros modos de usar a língua? A língua, aqui, é a que diz, que fala, mas também é a que saboreia e manifesta. Estamos falando (de) duas línguas e um manifesto contra o apagamento de outras tantas. A língua oficial do Brasil, o português, uma marca colonial que os obriga a dizer assim: em português; a língua do paladar, a que degusta e saboreia os alimentos; e, por fim, o Potyguês apresentado por Juão Nyn (2020) como um manifesto do que é possível criar por entre elas. A vogal cardíaca “y” retoma um som sagrado apagado pela língua oficial ao tempo em que saberes culinários transformados em sabores culinários comunicam memórias e nos reconectam com o tempo dos sonhos. Seja pela retomada de cosmogonias, seja pela evocação da memória, ambas propõem outros modos de (des)fazer a língua. Para esta receita: saberes ancestrais, boca, dentes e som. As mordidas de um passado colonial ecoam em outros modos de fazer e de (sub)verter a língua.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

APYKÁ, Luã. Curso de Tupi-Guarani-Nhandewá: escrita. Peruíbe: Luã Apyká, 2021.

BARTHES, Roland. Aula: aula inaugural da cadeira de semiologia literária do Colégio de França, pronunciada dia 7 de janeiro de 1977. São Paulo: Cultrix, 2013.

BONA, Dénètem Touam. Cosmopoéticas do refúgio. Florianópolis: Cultura e Bárbarie, 2020. Tradução de: Milena P. Duchiade.

EVARISTO, Conceição. Gênero e Etnia: uma escre(vivência) de dupla face. Mulheres no Mundo: etnia, marginalidade e diáspora. João Pessoa: Ideia, 2005, p. 1 -14.

FINAZZI-AGRÒ, E. A invenção da ilha. Tópica literária e topologia imaginária na descoberta do Brasil. Remate de Males, Campinas, SP, v. 13, p. 93–103, 2012. DOI: 10.20396/remate.v13i0.8636199. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/remate/article/view/8636199. Acesso em: 14 set. 2021.

GALVÃO, Joyce. Ingredientes para uma confeitaria brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2021..

GONZALEZ, Lélia. Por um Feminismo Afro-Latino-Americano: Ensaios, Intervenções e Diálogos. Rio Janeiro: Zaharm 2020,

GOMES, Laura Graziela; BARBOSA, Livia. Culinária de papel. Estudos históricos, Rio de Janeiro, n. 22, p. 3-23, jan-jun 2004.

GRAÚNA, Graça. Contrapontos da Literatura Indígena no Brasil. Belo Horizonte: Mazza, 2013.

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. Tradução de: Beatriz Perrone-Moisés.

KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

LUDMER, Josefina. Aqui América latina: uma especulação. 2. ed. Belo Horizonte: Editora Ufmg, 2013.

MICHAELSEN, Mariana Vogt. (N)o verso das receitas, uma página em branco: a escritura, a litura e a leitura de livros de receitas. Dissertação (mestrado em Literatura) – Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2022.

NYN, Juão. Tybyra: uma tragédia indígena brasileira. São Paulo: Selo Doburro, 2020.

RIBEIRO, Sidarta. O oráculo da noite: a história e a ciência do sonho. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

SMITH, Linda Tuhiwai. Decolonizando metodologias: pesquisa e povos indígenas. Curitiba: Editora Ufpr, 2019.

X, Barbara; TUPINAMBÁ, Moara. Piracaia: um manifesto vanguardista de indígenas antifuturistas. São Paulo: Sarau Ajuri de Makunaimi, 2021.

Downloads

Publicado

2022-09-01

Como Citar

MICHAELSEN, Mariana Vogt; DEIFELD, Alessandra Guterres. Do paladar ao potyguês: a transtemporalidade da língua. Palíndromo, Florianópolis, v. 14, n. 34, p. 35–57, 2022. DOI: 10.5965/2175234614342022035. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/palindromo/article/view/22165. Acesso em: 23 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos Seção temática