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Circo na escola: educação e arte na Educação Básica
Gilson Santos Rodrigues
Marco Antonio Coelho Bortoleto
Daniel de Carvalho Lopes
Para citar este artigo:
RODRIGUES, Gilson Santos; BORTOLETO, Marco
Antonio Coelho; LOPES, Daniel de Carvalho. Circo na
escola: educação e arte na Educação Básica.
Urdimento
Revista de Estudos em Artes Cênicas,
Florianópolis, v. 1, n. 46, abr. 2023.
DOI: http:/dx.doi.org/10.5965/1414573101462023e0110
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Circo na escola: educação e arte na Educação Básica
Gilson Santos Rodrigues | Marco Antonio Coelho Bortoleto | Daniel de Carvalho Lopes
Florianópolis, v.1, n.46, p.1-27, abr. 2023
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Circo na escola
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: educação e arte na Educação Básica
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Gilson Santos Rodrigues
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Marco Antonio Coelho Bortoleto
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Daniel de Carvalho Lopes
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Resumo
O objetivo deste artigo é apresentar as manifestações circenses na Educação
Básica. O estudo realizou a pesquisa exploratória em múltiplas fontes
bibliográficas e multimídias, tratadas via Análise Interpretativa. Os resultados
evidenciam muitas manifestações circenses acontecendo na Educação
Básica, realizadas por artistas, professores e arte-educadores. Apresentações
artísticas profissionais, cursos, oficinas, palestras etc., aulas-passeio e
projetos extracurriculares e complementares não se constituem saberes
escolares, pois não se articulam com currículos. Contudo, os projetos pluri,
inter e transdisciplinares, disciplinas curriculares de Circo e o ensino como
temática, conteúdo e recurso didático em disciplinas tornam o Circo um
saber escolar sujeito aos dispositivos da instituição e organização escolar. Em
síntese, este estudo procura valorizar a diversidade de ações, projetos,
atividades e sujeitos que buscam aproximar o Circo, sua arte e seus saberes
da Educação Básica.
Palavras-chaves
: Circo. Educação Básica. Currículo. Cultura escolar.
1
Revisão ortográfica, gramatical e contextual do artigo realizada por Maria Fernanda Brito de Araujo, licenciada
em Língua Portuguesa e Literatura de Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Espírito Santo, atua
como revisora textual desde 2019. http://lattes.cnpq.br/1423763050494758
2
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior - Brasil (CAPES) - digo de Financiamento 001.
3
Doutorando em Educação Física, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Mestrado em Educação
Física, pela Unicamp. Especialista Lato Sensu pela Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp).
Graduação em Educação Física pela Unicamp. gio.sts.rodrigues@hotmail.com
http://lattes.cnpq.br/5381606413420083 https://orcid.org/0000-0002-1472-2480
4
Estágio de Pós-doutorado na Faculdade de Motricidade Humana (FMH) da Universidade de Lisboa (Portugal)
(2010-2011) e na Universidade de Manitoba (Canadá, 2018). Livre Docente (Professor Associado) FEF-UNICAMP
(2016). Doutorado - Universidade de Lleida / Instituto Nacional de Educação Física da Catalunha (INEFC) na
Espanha (2004). Mestrado em Educação Física - Universidade Estadual de Campinas (Unicamp - 2000).
Graduado (Licenciatura Plena) em Educação Física - Universidade Metodista de Piracicaba (1997). Professor
visitante na Universidad A Coruña (Espanha, 2011), na Universidad Nacional de La Plata (Argentina, 2017) e na
Univ. de la República (Uruguai, 2022). Professor de Acrobacia na Escola de Circo de Barcelona (Espanha,
2001-2005). DRT Artista circo 0056352/SP. Professor MS5.2 (Associado - Livre Docente) do Departamento de
Educação Física e Humanidades (DEFH) da Faculdade de Educação Física da UNICAMP.
bortoleto@fef.unicamp.br
http://lattes.cnpq.br/8517706988302686 https://orcid.org/0000-0003-4455-6732
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Doutorado em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Mestrado em
Artes pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Licenciatura plena em Educação
Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Educador de Circo Social, coordenador do portal
da diversidade circense - www.circonteudo.com territio@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/5523255739571050 https://orcid.org/0000-0002-2137-2060
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Circus at school: education and art in Basic Education
Abstract
This article aims to present the circus manifestations in Basic Education in
Brazil. The study adopted the exploratory research of multiple bibliographic
and multimedia sources, analysed through Interpretive Analysis. The results
shows much circus manifestations occur in Basic Education, carried out by
artists, teachers and art-educators. The results pointed out that professional
artistic presentations; courses, workshops, conferences and others; Tours-
Lessons; extracurricular projects and complementary activities do not
constitute school knowledge because they are not articulate with the
curriculum. However, pluri, inter and transdisciplinary projects, the curricular
disciplines of the Circus, and teaching as a theme, content and didactic
resource in the subjects make the Circus a school knowledge subject to the
devices of the school institution and organization. Thus, this study seeks to
value the diversity of actions, projects, activities, and people who seek to bring
the Circus, its art and wisdom closer to Basic Education.
Keywords
: Circus. Basic Education. Curriculum. School Culture.
Circo en la escuela: educación y arte en la Educación Básica
Resumen
El objetivo de este artículo es presentar las manifestaciones circenses en la
Educación Básica. La investigación exploratoria se realizó por medio de
múltiples fuentes bibliográficas y multimedia revisadas a luz del Análisis
Interpretativo. Los resultados muestran muchas manifestaciones circenses
que ocurren en la Educación Básica, realizadas por artistas, maestros y
educadores de arte. Como resultados se señala que las presentaciones
artísticas profesionales; cursos, talleres, conferencias etc., las Clase-Paseo,
los proyectos extracurriculares y las actividades complementares no
constituyen conocimiento escolar, porque no se articulan con los currículos.
Sin embargo, los proyectos pluri, inter y transdisciplinarios; las disciplinas
curriculares del Circo y la enseñanza como tema, contenido y recurso
didáctico en las disciplinas, hacen del Circo un saber escolar sujeto a los
dispositivos de la institución y organización escolar. Así, este estudio busca
poner en valor la diversidad de acciones, proyectos, actividades y personas
que buscan acercar el Circo, su arte y sus saberes, a la Educación Básica.
Palabras claves
: Circo. Educación Básica. Currículo. Cultura Escolar.
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Introdução
O presente texto é fruto de uma dissertação de mestrado que foi revisada e
ampliada na intenção de compor este artigo tratando das “Artes circenses fora da
lona: [...] escolas” (
Urdimento, online
, s/d). De início, situamos o estudo nos
interstícios da Arte e Educação atuando com uma Pedagogia das Atividades
Circenses (Bortoleto, 2008; 2010; 2014). Ideada como uma das “pedagogias do
corpo” (Soares, 2013), a Pedagogia das Atividades Circenses abrange um conjunto
amplo de experiências de ensino de Circo. Destarte, situados nesse contexto e
partindo de experiências de pesquisa científico-pedagógica, artísticas e atuações
na arte-educação (Circo Social
6
) é que apresentamos este trabalho.
Para contextualizar o tema, aprioristicamente propomos uma abordagem
sincrética e, a
posteriori
, diacrônica ou histórica. certo consenso de que o Circo
é uma linguagem artística (Bouissac, 1976; 2012; Wallon, 2009) embora ainda
esteja em disputa a definição do que é Arte (Shapiro, 2007). A dramaturgia circense
(Barbosa; Oliveira, 2021) ou poética circense tem na dimensão corporal corpo
poético (Lecoq, 2010) o princípio de materialização dessa linguagem (Bolognesi,
2001; Martin, 2009). De fato, é no corpo do artista que se materializa o corpo ora
grotesco ora sublime (Bolognesi, 2001), a estética do risco (Guzzo, 2004), a virtuose
e a
performance
(Goudard, 2009) como potências constitutivas da linguagem
circense. Em síntese, é no corpo que se produz a “magia do Circo” (Rocha, 2013).
Porém, nem todas as manifestações do Circo têm uma finalidade voltada à criação
artística e à produção da obra de arte circense: o espetáculo.
Deste modo, algumas das manifestações do Circo se utilizam de alguns
elementos estéticos, artísticos, corporais, entre outros, produzidos ou agregados
ao espetáculo circense, como “artifício” (atividade-meio) para outros fins que não
são a produção dramatúrgica circense. Destarte, o Circo pode assumir formas e
intencionalidades diversas em múltiplos âmbitos sociais (Duprat, 2014). Entre as
formas de manifestação do fenômeno circense o ensino na escola básica. Neste
6
Para uma melhor compreensão de Circo Social, cf.: Dal Gallo (2010) e Spiegel (2016).
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texto, enfatizamos justamente as manifestações circenses na Educação Básica.
Diacronicamente, nosso tema de estudo está situado no período posterior à
década de 1980. Silva (2011) e Matheus (2016) apontam que no fim da década de
1970 e início da década de 1980 uma nova configuração histórica e cultural
possibilitou a emergência de uma renovada experiência circense: a abertura das
escolas de Circo. Para Burguess (1974), Ferreira (2010) e Burtt e Lavers (2017), a
primeira iniciativa dessa natureza foi a Escola de Circo de Moscou, criada em 1927.
Porém, é efetivamente na década de 1980 que o movimento de abertura de
escolas de Circo no Brasil e no mundo ocidental (Fratelini, 1988; Renevey, 1988,
Lopes; Silva; Bortoleto, 2020). Talvez a consequência mais significativa da abertura
das escolas de Circo seja a expansão das possibilidades de experiências circenses.
A esse respeito, Lopes, Silva e Bortoleto (2020, p.159-160) destacam que:
A diversidade de propostas [das escolas de Circo] foi além de formar
artistas profissionais, tendo iniciado experiências e iniciativas como o
Circo Social, bem como aulas de circo voltadas para o lazer e a aquisição
de condicionamento físico em distintos espaços de aprendizagem, como
galpões, quintais, academias de ginásticas e até mesmo para dentro das
universidades.
Na contemporaneidade do século XXI, como tratam Lopes e Silva (2018), ainda
estamos vivenciando essa expansão das experiências circenses. No bojo dessas
novas experiências emerge a potência do Circo na Educação Básica
7
. As pesquisas
mostram que o Circo tem encontrado diversas brechas ou gretas para a
incorporação na Educação Básica por intermédio de disciplinas, eventos escolares,
oficinas, projetos pluri, inter ou transdisciplinares, propostas curriculares etc.
(Costa; Tiaen; Sambugari, 2008; Takamori et al., 2010).
Em vista do exposto, questionamos: quais as manifestações circenses na
Educação Básica? Quem são os agentes responsáveis por realizá-las? A partir
desses questionamentos, nosso objetivo é apresentar as manifestações circenses
na Educação Básica e, especificamente: i) delinear as particularidades das
manifestações circenses na escola básica, e ii) classificar as manifestações a partir
7
A Educação Básica é composta pela Educação Infantil (0-5 anos), Ensino Fundamental (6-14 anos) e Ensino
Médio (15-17 anos) (BRASIL, 2018).
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da articulação ou não com os documentos curriculares da Educação Básica.
A partir de uma pesquisa qualitativa e exploratória em fontes tanto
bibliográficas quanto multimídias, o presente texto está organizado em quatro
seções. Na introdução anunciamos o tema investigado, as questões norteadoras e
os objetivos da pesquisa. No capítulo “Notas metodológicas” tratamos do
levantamento das fontes e análise de dados. Na seção “O picadeiro na escola: as
manifestações circenses na Educação Básica” apresentamos os resultados da
pesquisa baseados num constructo teórico que distingue as manifestações
circenses que ocorrem na Educação Básica atreladas aos currículos daquelas não
vinculadas a tais documentos. De resto, nas Considerações retomamos os
objetivos do estudo à luz do percurso de pesquisa e apontamos limites e
perspectivas para o debate sobre as formas de presença do Circo na escola básica.
Notas metodológicas
O estudo baseia-se no paradigma interpretativo de pesquisa qualitativa, numa
perspectiva exploratória do fenômeno investigado (Bauer; Gaskell, 2008).
Conforme o viés exploratório, as fontes são de natureza bibliográfica e multimídia
(Hatch, 2002; Bauer; Gaskell, 2008). Embasando-nos nos debates teórico-
metodológicos de Silveira e Santos (2011) e Bouissac (2012), neste estudo dispomos
da internet para acessar informações em sites, redes sociais virtuais (
Facebook,
Instagram
etc.),
blogs
, vídeos do
YouTube
e jornais digitais. As informações obtidas
nessas fontes foram cotejadas junto à bibliografia (Loizos, 2008).
O
corpus
documental contou, portanto, com fontes múltiplas (bibliográfica e
multimídia). As fontes bibliográficas contaram com artigos, livros, capítulos de
livros, teses, dissertações, TCC e anais de congressos, acrescidas de jornais digitais,
sites
e
blogs
. As fontes multimídias foram fotografias em artigos e jornais e vídeos
no
Youtub
e. Em posse desse
corpus
documental, procedemos à análise das
fontes, pautados na análise semiótica de imagens (Penn, 2008; Rose, 2008) e
Análise Interpretativa (Hatch, 2002).
Os procedimentos analíticos decorreram da leitura de fontes textuais e da
análise semiótica das fotos e vídeos, evitando seu uso de forma ingênua e
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instrumental, como apenas receptáculos de informações a serem extraídas, mas
visando interrogá-las por meio de mediações cuidadosas e interpretações críticas
(Pínsky, 2008). Os
insights
e a produção de núcleos de sentidos consubstanciaram
a escrita dos resultados. Por fim, os resultados intitulados “manifestações
circenses na Educação Básica” – foram agrupados em duas categorias: Circo “NA”
escola e Circo “DA” escola
8
. A escrita dos resultados intercalou dados,
interpretações e trechos das fontes.
O picadeiro na escola: as manifestações circenses na Educação
Básica
A pesquisa bibliográfica sugere que foi somente após a década de 1980 que
o Circo se tornou uma possibilidade escolar. Bortoleto (2008) destaca que são da
década de 1990 as primeiras evidências da presença das atividades circenses nas
escolas. Desde então, o Circo está presente em todos os ciclos escolares, da
Educação Infantil à Educação de Jovens e Adultos (EJA) (Bortoleto et al., 2020;
Santos Rodrigues et al., 2021).
Para organizar as manifestações circenses na Educação Básica, ideamos uma
distinção baseada na presença ou ausência do Circo no currículo escolar. Segundo
Gimeno Sacristán (2017, p.34, grifo do autor), o currículo é um “[...] projeto seletivo
de cultura, cultural, social, política e administrativamente condicionado, que
preenche a atividade escolar e que se torna realidade dentro das condições da
escola tal como se acha configurada”. Embora não seja restrito à versão escrita,
os documentos curriculares são um dispositivo de materialização de um projeto
de escola, sociedade e cidadão (Silva, 2010). Assim, nossa análise restringe-se a
presença ou ausência do Circo nos textos dos documentos curriculares oficiais
(diretrizes, referenciais, propostas curriculares etc.) e/ou nos documentos
pedagógicos (planos de ensino, diário de aulas etc.).
A figura 1 demarca as manifestações do Circo na Educação Básica.
8
Essa proposição se inspira no debate sobre conhecimento na escola e da escola (Vago, 1996).
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Figura 1 Manifestações circenses “NA” escola e “DA” escola
Circo “NA” escola
Pela falta de menção nos textos curriculares, as manifestações circenses
“NA” escola não se constituem saberes escolares (Saviani, 2018). Para Canário
(2005), a instituição escolar possui autonomia relativa em relação às demais
instituições sociais (família, igreja etc.). Logo, a escola não é num espaço de
reprodução da cultura extraescolar ou das disciplinas científicas, ao invés disso, é
um espaço de produção simbólica e material particular que produz sua própria
cultura, a cultura escolar (Chervel, 1998). Chevallard (1991) define o processo de
conversão da cultura em cultura escolar, via pedagogia e didática, de
transposition
didactique
. Posto isso, as manifestações circenses “NA” escola não tiveram a
transposition didactique
e não se constituem saberes escolares. Porém, as
sobreditas manifestações podem adentrar os espaços escolares e povoar o
imaginário circense dos membros daquelas comunidades. Essa condição evidencia
que não há um amálgama entre o texto curricular e o currículo em ação.
A seguir apresentamos as manifestações do Circo “NA” escola.
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v
Apresentações artísticas profissionais
“NA” escola: os produtos de
processos de criação e produção artística circense, materializados na forma de
números
9
, esquetes, intervenções, espetáculos etc. podem ser apresentados no
espaço/ambiente das unidades escolares. Pátios, áreas verdes, salas etc. se
transformam no “círculo mágico”
10
para as atrações circenses. Para os escolares,
a experiência circense ocorre na forma de fruição dos espetáculos.
Na realização dessas apresentações para escolares podem ser feitas (ou não)
adaptações poéticas, artísticas, linguísticas e outras, visando à melhor
comunicação com o “respeitável público”, em especial, com as crianças que
podem não entender integralmente os significados representados nos atos
circenses (Bouissac, 1978). Essas adaptações fazem parte da criação e produção
artística e da formação circense (Magnani, 2003). Neste sentido, as adaptações são
diálogos que os artistas de Circo estabelecem com as culturais locais e com a
contemporaneidade estética, poética, tecnológica etc. do seu tempo histórico
(Silva, 2011; Lopes; Silva, 2018).
A pesquisa bibliográfica evidenciou alguns exemplos dessa manifestação
circense “NA” escola. Ontañón e Bortoleto (2014) não tratam do tema, porém,
publicam duas imagens que aludem a apresentações artísticas profissionais em
uma unidade escolar. As imagens retratam um mesmo local dentro da escola, uma
área com a estrutura símil a um teatro italiano, com um palco nivelado acima da
plateia. A primeira imagem, com a legenda
Espectáculo de telas realizado en la
escuela
(Ontañón; Bortoleto, 2014, p.40), mostra uma artista no tecido (de frente
para a câmera) e a plateia de estudantes sentados em cadeiras assistindo ao ato
cênico da aerialista. A segunda foto mostra o ângulo inverso da primeira imagem.
Na imagem vê-se em primeiro plano um artista em cena sobre o palco e no plano
de fundo a plateia de crianças e adultos assistindo ao ato cênico. As imagens
sugerem a realização de apresentações artísticas circenses.
9
O termo “número circense” designa os exercícios apresentados sob o aporte de uma temática, que compõem
uma parte do espetáculo circense. Estruturalmente há uma entrada em cena, o desenvolvimento de ritmos
e rotinas e uma saída de cena. Em média, um número tem a duração de 8 minutos (Fouchet, 2006).
10
Sobre o “círculo mágico” referente ao palco circular circense ou picadeiro, cf.: Goudard (2001) e Santos
Rodrigues, Lopes e Bortoleto (2022).
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10
Outra evidência são os estudos de Leite (2017) e Rocha (2013). O primeiro
relata que num evento de uma escola pública de Ensino Fundamental em Macau-
RN, a comunidade escolar e extraescolar pôde “[...] apreciar a apresentação dos
palhaços Lombriga e Bole-Bole com o espetáculo de palhaços ‘Quem Aposta
Come Brocha’ da Cia. Arte e Riso de Umarizal/RN” (Leite, 2017, p.12). Ao final da
apresentação houve um bate-papo com os artistas que se apresentaram na
escola. Rocha (2013), em “A magia do Circo: etnografia de uma cultura viajante”,
reitera essa evidência ao descrever a rotina laboral dos artistas circenses de um
grupo circo-familiar itinerante que treinava para espetáculos exclusivos para
escolas da periferia das cidades.
Em outro relato de um grupo artístico, Zaim-de-Melo, Santos Rodrigues e
Godoy (2021) descrevem as visitas, intervenções artísticas e apresentações do
grupo acadêmico-artístico
Los Pantaneiros
nas Escolas das Águas
11
, no Pantanal
Sul-mato-grossense. Em outros artigos, Zaim-de-Melo et al. (2021) e Zaim-de-
Melo, Silva e Duprat (2021) descrevem e analisam os vários aspectos dessa
experiência artística “NA” escola. Mediante diários de bordo, análises de
apresentações e ilustrações por meio de fotografias e desenhos dos escolares, os
autores tratam do impacto das apresentações no imaginário circense dos
escolares, vivências corporais e da formação artística dos acadêmicos-artistas.
Na
internet
há o
site
do Projeto Circo na Escola
12
. O projeto está vinculado às
ações extensionistas da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual
de Campinas (FEF-Unicamp). O
site
informa que “A intervenção do grupo acontece
normalmente através de espetáculos de 40 a 60 minutos” (Projeto Circo na Escola,
online
, s/p). Os artistas atuam de forma voluntária, cabendo às unidades escolares
custear os valores operacionais. O elenco conta com vários artistas e companhias
com diversas especialidades (palhaçaria, acrobacias, malabares, tecido, lira, perna-
de-pau, mágica, mímica, monociclo etc.). Portanto, as fontes reiteram as
11
As “Escolas das Águas” são unidades escolares no Pantanal Sul-Mato-Grossense isoladas, cujo acesso é
somente a barco ou avião, em decorrência da ação do Rio Paraguai (períodos de cheia e vazante), o que lhes
condiciona regimes únicos de escolarização (Zaim-de-Melo et al., 2021).
12
Cf.: (http://www.circonaescola.com.br/)
Circo na escola: educação e arte na Educação Básica
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11
apresentações circenses profissionais “NA” escola.
v
Cursos, oficinas, palestras etc., realizadas por artistas e arte-educadores
“NA” escola. Cursos, oficinas, palestras, encontros etc. têm sido realizados por
artistas, arte-educadores e outros no espaço/ambiente escolar na Educação
Básica. Essas ações permitem discutir, assistir e fazer as atividades circenses. São
iniciativas que, para além de fruir/contemplar, possibilitam ampliar as referências
circenses por meio de exposição, conversações e experiências corporais. Muitas
vezes, essas ações simbolizam uma ressignificação do Circo para a comunidade
escolar que sai da posição de expectadora para se tornar, no momento das
intervenções “NA” escola, “fazedores” de Circo.
A pesquisa bibliográfica mostra outra ação desenvolvida por Leite (2017). O
autor retrata um evento numa unidade escolar com ações de contextualização
que contou com exibição de filmes
13
, vídeos, roda de conversas, apresentações
artísticas profissionais e escolares. Leite (2017, p.12) afirma que “Durante todo o
evento a participação de toda a comunidade era bem-vinda, a escola se mantinha
de portas abertas para que as pessoas pudessem circular naquele ambiente
organizado e preparado para tal ação”. Outra evidência dessas ações é o Projeto
Circo na Escola (online), que enuncia a opção de seus idealizadores por realizar
oficinas de capacitação para os docentes visando a uma maior difusão do
potencial educativo das atividades circenses “NA” escola.
Uma das atividades mais profícuas em cursos, oficinas e ações formativas
“NA” escola é a confecção de aparelhos de malabares. A confecção de bolinhas,
aros, caixas, claves,
swing poi
14
ou barangandãs etc., com materiais de reuso e/ou
de baixo custo, é tanto uma ação para contornar a falta de aparelhos circenses
quanto uma alternativa para a articulação de saberes sobre a motricidade dos
malabares, a historicidade circense e a Educação Ambiental (Lopes; Parma, 2016).
Ainda sobre a confecção de