A (re)produção do espaço e da moradia: conquistas e desafios contemporâneos a partir da perspectiva de gênero, raça e classe

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/19847246242023e0312

Palavras-chave:

espaço, moradia, vida cotidiana, mulheres negras, política habitacional

Resumo

Este artigo busca revisitar e adensar contribuições sobre a (re)produção do espaço e da moradia a partir de uma perspectiva marxista-lefebvriana e feminista. As contribuições e problematizações ocorrem a partir de dois movimentos: 1) no campo da teoria social crítica, busca-se dar centralidade à categoria de produção do espaço, refletindo como o espaço tem sido consumido e (re)produzido pelo sistema capitalista-racista-patriarcal e quais as consequências na vida cotidiana das mulheres; 2) no plano da prática política emancipatória, são evidenciadas as experiências, lutas e resistências cotidianas protagonizadas por mulheres negras em busca da garantia do direito à moradia, pela reapropriação e construção de um espaço diferencial, justo e digno, bem como as conquistas incorporadas nas políticas habitacionais e urbanas oriundas desse movimento. Do ponto de vista metodológico, estrutura-se por meio da análise bibliográfica, de fontes documentais, marcos regulatórios e de indicadores sociais desagregados por gênero e cor/raça, com base nos dados censitários elaborados pelo IBGE. Como resultado, aponta que as lutas históricas das mulheres negras permitiram avanços significativos nas políticas habitacionais e urbanas, todavia, com o sistema capitalista-patriarcal-racista intacto e promovendo constantes desmontes dos direitos sociais, não são capazes de enfrentar as desigualdades de gênero, raça e classe no acesso ao direito à moradia e à cidade. Por fim, diante de sucessivos ataques ao setor habitacional e urbano em detrimento de um projeto de contrarrevolução neoliberal, reforça a urgência em refazer os caminhos, fortalecer a luta coletiva em prol da reivindicação do uso como princípio e de se (re)apropriar do espaço por meio de práticas revolucionárias e insurgentes, para que se abra a dialética do possível-impossível.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Daiane da Silva Pacheco Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Mestre em Serviço Social pela Universidade do Rio de Janeiro – UERJ. Doutoranda em Planejamento Urbano e Regional na Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.

Referências

ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018.

BRASIL. (Ministério das Cidades). Política Nacional de Habitação (PNH). Cadernos Cidades, Brasília, DF, n. 4, p. 01-104, 2004.

CARLOS, Ana Fani A. O eclipse da cidade e os sem direitos. Le Mond Diplomatique Brasil, São Paulo, 25 abr. 2020. Disponível em: https://diplomatique.org.br/o-eclipse-da-cidade-e-os-sem-direitos/. Acesso em: 20 maio 2020.

CARLOS, Ana Fani A. Para pensar a cidade e o urbano hoje: diálogos interdisciplinares no campo das ciências humanas. In: CARLOS, Ana F. A. (org.). Geografia urbana: desafios teóricos contemporâneos. Salvador: EDUFBA, 2018. p. 21-28.

CARNEIRO, Sueli. Mulheres em movimento: contribuições do feminismo negro. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de (org.). Pensamento feminista brasileiro: formação e contexto. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2019. p. 271-292.

CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o Feminismo: A Situação da Mulher Negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero. Portal Geledés, São Paulo, 2011. Disponível em: https://www.geledes.org.br/enegrecer-o-feminismo-situacao-da-mulher-negra-na-america-latina-partir-de-uma-perspectiva-de-genero/. Acesso em: 18 jul. 2020.

CARNEIRO, Sueli. O encontro da ancestralidade negra e a herança das lutas coletivas. Ponte, [s. l.], 2021. Disponível em: https://ponte.org/sueli-carneiro-o-encontro-da-ancestralidade-negra-e-a-heranca-das-lutas-coletivas/. Acesso em: 20 out. 2022.

CARNEIRO, Sueli. A batalha de Durban. Rev. Estu. Fem., Florianópolis, v. 10, n. 1, p. 209-214, 2002.

CFESS. Assistentes Sociais no combate ao racismo. Brasília, DF: Comissão da Campanha de Gestão 2017-2020 do CFESS, 2020.

CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Rev. Estu. Fem., Florianópolis, v. 10, n. 1, p.171-189, 2002.

FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. Tradução Coletivo Sycorax. São Paulo: Elefante, 2004.

GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de (org). Pensamento feminista brasileiro: formação e contexto. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2019. p. 237-258.

GONZALEZ, Lélia. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, [Brasília]: Anpocs, p. 223-244, 1984.

HOOKS, bell. Erguer a voz: pensar como feminista, pensar como negra. São Paulo: Elefante, 2019.

IAMAMOTO, Marilda; CARVALHO, Raul. Relações sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2014.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2018.

LEFEBVRE, Henri. Espaço e política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

LEFEBVRE, Henri. La production de l'espace. 4. ed. Paris: Ed. Anthropos, 2000.

LEFEBVRE, Henri. A re-produção das relações de produção. Porto: Edições Escorpião, 1976.

LUGONES, María. Colonialidade e gênero. In: HOLANDA, Heloisa Buarque de; VAREJÃO, Adriana (orgs.). Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. 1. ed. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. p. 60-96.

LUZ, Fabiana Cristina. A dimensão racial nas políticas urbanas e habitacionais. Revista da ABPN, [Curitiba], v. 12, p. 126-152, abr. 2020. Ed. Especial. (Caderno Temático: “Geografias Negras”).

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. 18. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. Livro I, volume 1.

RIBEIRO, Fabiana Valdoski. A luta pelo espaço: da luta pela segurança da Posse à política de regularização fundiária de interesse social em São Paulo. São Paulo, 2012. Tese (Doutorado em Geografia) – FFLCH, Universidade de São Paulo.

RIBEIRO, Fabiana Valdoski. A prática socioespacial da resistência. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri; SANTOS, César Simoni; ALVAREZ, Isabel Pinto (org.). Geografia crítica: teoria e método. São Paulo: Contexto, 2018. p. 53-64.

ROLNIK, Rolnik. Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finanças. 1. ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 2015.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EDUSP, 2009.

VALLADARES, Lícia do Prado. A gênese da favela carioca: a produção anterior às ciências sociais. RBCS, São Paulo, v. 15, n. 44, p. 5-34, out. 2000.

WERNECK, Jurema, SILVA, Nilza Iraci. Dossiê: a situação dos Direitos Humanos das mulheres negras no Brasil: violências e violações. Rio de Janeiro: Criola, 2016.

Downloads

Publicado

2023-12-20

Como Citar

NERY, Daiane da Silva Pacheco. A (re)produção do espaço e da moradia: conquistas e desafios contemporâneos a partir da perspectiva de gênero, raça e classe. PerCursos, Florianópolis, v. 24, p. e0312, 2023. DOI: 10.5965/19847246242023e0312. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/percursos/article/view/23483. Acesso em: 4 maio. 2024.

Edição

Seção

Dossiê “Questão Urbana, os sujeitos dos territórios populares e a luta pelo direito à cidade”