Ficções para o fim do mundo: uma proposta epistemológica contra-colonial

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5965/19847246242023e0203

Palavras-chave:

ficções, epistemologia contra-colonial, fim do mundo

Resumo

O fim do mundo é o horizonte que aterroriza o mundo da branquitude. O colapso global tornou-se o horror por excelência, ao apontar para o esmaecimento do futuro idealizado por uma humanidade criada pelas ficções moderno-coloniais. Nessa esteira, discutimos sobre uma crise epistemológica, a qual, a partir de suas narrativas criadas no berço dessa modernidade-colonialidade, alimentam o mundo que conhecemos: o mundo neoliberal-colonial. Em contraposição, propomos as ficções como uma espécie de tensionamento das epistemologias modernas e, também, como a possibilidade de escrita de novas epistemologias descentradas da lógica racista. Assim, o fim do mundo torna-se uma possibilidade: para que o novo ganhe lugar, para que a História não chegue ao seu fim, é preciso tramar novas ficções nas quais este mundo, em sua miséria, encontre sua finitude. As ficções, portanto, como armas contra-coloniais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Maria Lucia Macari, Federal University of Rio Grande do Sul

Mestra em Psicanálise Clínica e Cutura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Doutoranda em Psicologia Social e Institucional na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.

Karine Shamash Szuchman, Federal University of Rio Grande do Sul

Mestra Psicologia Social e Institucional Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Doutoranda em Psicologia Social e Institucional Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.

Referências

ACHEBE, Chinua. A literatura africana como restabelecimento da celebração. In: ACHEBE, Chinua. A educação de uma criança sob o protetorado britânico. São Paulo: Companhia das letras, 2012. p. 111-125.

BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984.

BENJAMIN, Walter. Sobre o Conceito de História. In: BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura: volume I. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 222-234.

BENTO, Maria Aparecida Silva. Branqueamento e branquitude no Brasil. In: CARONE, Iray; BENTO, Maria Aparecida Silva. Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis: Editora Vozes, 2014. p. 25-58.

BRUM, Eliane. O suicídio dos que não viram adultos nesse mundo corroído. El País, São Paulo, 19 jun. 2018. Dispo¬nível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/18/opinion/1529328111_109277.html. Acesso em: 26 set. 2022.

CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. São Paulo: Veneta, 2020.

COSTA, Luis Artur. O corpo das nuvens: ouso da ficção na Psicologia Social. Fractal: Revista de Psicologia, Niterói, v. 26, p. 551-576, 2014.

COSTA, Luis Artur. Narrar-se para se desgarrar do razoável: a ficção como dispositivo clínico-político ético estético. Paralelo 31, Pelotas, v. 15, p. 180-207, 2020.

DANOWSKI, Déborah; VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Há mundo por vir? ensaio sobre os medos e os fins. Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2014.

FANON, Frantz. Os condenados da terra. Lisboa: ULISSEIA, 1961.

GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.

GRAMSCI, Antonio. Odeio os indiferentes: escritos de 1917. Boitempo: São Paulo, 2020.

GROSFOGUEL, Ramón. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado, [s. l.], v. 31, n. 1, p. 25-49, jan./abr. 2016.

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2020a.

KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020b.

LACAN, Jacques. O seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964). Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

LE BRETON, David. Adeus ao corpo: antropologia e sociedade. 6. ed. Campinas: Papirus, 2013.

LÉVI-STRAUSS, Claude. A eficácia simbólica. In: LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996. p. 215-236.

MARCUSE, Herbert. El hombre unidimensional: ensayo sobre la ideología de la sociedad industrial avanzada. Barcelona: Planeta Agostini, 1993.

MARTIN-BARÓ, Ignácio. O latino indolente: caráter ideológico do fatalismo latino-americano (1983). In: MARTIN-BARÓ, Ignácio. Crítica e libertação na psicologia: estudos psicossociais. Petrópolis: Vozes, 2017. p. 173-203.

MARX, Karl. Manuscritos econômicos filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2010.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Penguin Classics: Companhia das Letras, 2012.

MBEMBE, Achille. Políticas da inimizade. Lisboa: Antígona, 2017.

MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. São Paulo: n-1 edições, 2018.

MBEMBE, Achille. Sair da grande noite: ensaio sobre a África descolonizada. Petrópolis: Vozes, 2019.

MIGNOLO, Walter. Desafios coloniais hoje. Revista epistemologias do Sul, Foz do Iguaçu, v. 1, n. 1, p. 12-32, 2017.

MOMBAÇA, Jota. Rumo a uma redistribuição desobediente de gênero e anticolonial da violência! In: PEDROSA, Adriano; CARNEIRO, Amanda; MESQUITA, André (orgs.). Histórias da sexualidade: antologia. São Paulo: MASP, 2017. p. 301-310.

NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2016.

PARKER, Ian; PAVÓN-CUÉLLAR, David. Psicanálise e revolução: psicologia crítica para movimentos de liberação. Belo Horizonte: Autêntica, 2022.

PAVÓN-CUÉLLAR, David. Hacia una descolonización de la psicología latinoamericana: condición poscolonial, giro decolonial y lucha anticolonial. Cadernos Prolam/USP-Brazilian Journal of Latin American Studies, São Paulo, v. 20, n. 39, p. 95-127, 2021.

PAVÓN-CUÉLLAR, David. Violencia colonial y daño subjetivo en el presente latinoamericano. In: GARCÍA L. G. A.; CRUZ P. O.; OCAÑA Z. J. (coord.). Sujetos y contextos de las violencias en América Latina. Ciudad de México: Grañén Porrúa y Universidad de Ciencias y Artes de Chiapas, 2020. p. 27-53.

REICH, Wilhelm. Análise do caráter. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

SAER, Juan José. O conceito de ficção. Revista FronteiraZ, São Paulo, n.9, p. 320-325, jul. 2012.

SANTOS, Antônio Bispo dos. Colonização, quilombos, modos e significações. Brasília: INCTI/UnB, 2015.

SILVA, Rodrigo Lages. A ficção: uma aposta ético-política para as ciências. Fractal, Rev. Psicol., Rio de Janeiro, v. 26, p. 577-592, 2014. Número especial.

TODOROV, Tzvetan. A conquista da América. São Paulo: Martis Fontes, 2003.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Perguntas inquietantes. In: KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

ŽIŽEK, Slavoj. Introdução: o espectro da ideologia. In: ŽIŽEK, Slavoj (org.). Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. p. 07-38.

Downloads

Publicado

2023-10-05

Como Citar

MACARI, Maria Lucia; SZUCHMAN, Karine Shamash. Ficções para o fim do mundo: uma proposta epistemológica contra-colonial. PerCursos, Florianópolis, v. 24, p. e0203, 2023. DOI: 10.5965/19847246242023e0203. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/percursos/article/view/22851. Acesso em: 4 maio. 2024.

Edição

Seção

Dossiê “Perspectivas contracoloniais e ecologias antirracistas em tempos de catástrofes planetárias”