
ModaPalavra, Florianópolis, V. 16, N. 38, p. , jan./jun. 2023
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ModaPalavra e-periódico / Dossiê Artes, Moda e Cultura Visual
por meio da ilustração de trajes, o que poderíamos chamar de
histórias ilustradas do vestuário.
Esse tipo de gênero teve sua primeira manifestação no
Brasil em 1923, com Três Séculos de Modas, uma crônica acerca
das mudanças do vestuário desde o século XVII ao início do século
XX, contendo 56 ilustrações produzidas pelo próprio autor, o
maranhense radicado em Belém, João Affonso (1855-1924).
Muito antes disso, desde o século XVI, como no Trachtenbuch
(1560), de Matthäus Schwarz, esse campo de representação do
vestuário já vinha constituindo uma linguagem visual e conceitual
própria. Portanto, buscamos aqui apresentar um percurso, dividido
em categorias, que abrangerá diferentes acepções sobre obras
pioneiras que visavam registrar modos de vestir, entendendo seu
papel na constituição de uma visualidade histórica para o campo
do vestuário.
Nas próximas páginas serão apresentados, de forma
suscinta, alguns aspectos da escrita ilustrada do vestuário, a partir
das seguintes categorias: “livros de roupas”, “livros de trajes”,
“livros de gravuras e costumes”, “livros românticos/historicistas”,
“grandes livros ilustrados” e “livros modernos”, chegando até a obra
Três Séculos de Modas, para compreender suas relações visuais e
conceituais com essa produção histórica.
Essa cronologia é apresentada de forma completa na tese
Imagens na História do Vestuário (HAGE, 2022), sendo criada
a partir de um levantamento bibliográco baseado em obras
consideradas canônicas para a área, como os livros dedicados às
origens de estudos da moda, de Valerie Cumming (2004) e Lou
Taylor (2004), e as análises qualitativas mais pontuais encontradas
em textos de autores como Millia Davenport (1948), Gilles
Lipovetsky ([1989]2009), Aileen Ribeiro (1994), Massimo Baldini
(2005) e Daniela Calanca (2010).
Segundo Teixeira Coelho (2012), dene-se o cânone como
algo que representa um conjunto que agrupa obras reconhecidas
como as mais importantes de uma determinada tradição artística.
Como o autor comenta, “[...] essa operação está longe de revelar-
se cômoda e incontrovertida” (COELHO, 2012, p. 92), mas o
vestuário, enquanto linguagem, possui modelos autônomos que
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